domingo, 29 de abril de 2012



 

Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra é bobagem, você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela. Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável. Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples. Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você. Um dia saberemos a importância da frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" Um dia percebemos que somos muito importantes para alguém, mas não damos valor a isso. Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Deus não prometeu céu sempre azul,
Caminhos floridos por toda vida;
Deus não prometeu dias sempre ensolarados,
Alegria sem tristeza, paz sem dor.
Mas Deus prometeu força para cada dia;
Descanso do trabalho; Luz para o caminho;
Socorro vindo do céu
amor por toda vida e o melhor a Salvação para todos os que obedecerem sua palavra

quarta-feira, 25 de abril de 2012

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sabe quais são meus defeitos ?

.... São ainda lembrar de coisas que eu já deveria ter esquecido,
me importar com coisas que eu já deveria ter ignorado, me chatear
com coisas irrelevantes, ser sincero com gente falsa, amar pessoas não dignas de serem amadas, tolerar gente mal educada, ser amigável com pessoas que não sabem o real valor de uma Amizade, ser transparente naquilo que sinto e não saber mascarar meus sentimentos....


 Mas sabe qual é a minha maior qualidade?

- É assumir todos esses meus Defeitos!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

”E é assim que a gente vai vivendo, sabe? Errando pra aprender. Se decepcionando pra se proteger. Se machucando pra crescer. Chorando pra sorrir. A gente cai uma vez, pra aprender a se levantar em outra. No fim, tudo que for bom, verdadeiro, tudo o que realmente nos fizer bem, permanece.”

Confesso, sou absurdamente clichê. Sou conta mal-resolvida. Sou texto sem concordância, sou página rasada, rabiscada. Sou falta. Sou completo, sou meio-termo, confusão, bagunça. Sou real, sou fantasia. Sou complicada, embaraçada, incompreensiva, sem resolução, sou inverso, avesso, sou incessável, enredada. Transbordo. Explodo. Sou sem jeito, sou incógnita, sou desconhecida, até por mim. Não sou errada, confesso. Sou o próprio erro. Sou problema. Sou ausência, incerteza, inconstância, instável, sou uma verdadeira bagunça ambulante. Sou incompreensível, sou inquietante. Insuportável. Sou desordem. Sou.
Acho que sou como sal em boca de criança. Acho que sou uma primeira impressão nada boa. Sou totalmente coberta de idiotices e imperfeições, sou estranha e reservada, sou chata e talvez educada. Sou errada, sou errante. E até hoje eu não quis acertar os meus erros, a vida já é um erro, as pessoas já são um erro. Então deixa que a vida se resolve por si só. Eu sou aquela caixa de mudança que ninguém fez questão de levar, sou o oposto do amor, sou a linha torta. Mas desse jeito que eu sou, eu vou deixando o erro me levar.

A vida é linda e é de graça - cuida dela, não faça dela uma desgraça.

O mundo fica mais bonito quando a gente carrega coisas boas no peito.

Não demonstre suas fraquezas, as pessoas tem o hábito de usa-las contra você.
A verdade é que sou intensa demais. Choro fácil, e me alegro por tudo. Aqui dentro de mim não existe meio termo. Não fica nublado… aqui dentro só cai tempestade, ou fica tudo ensolarado.
Eu poderia vir com manual de instruções, assim eu seria poupado de tentar fazer as pessoas me entenderem

Anota num papel e cola na geladeira: Desapegue dos detalhes. Gargalhe. Não se importe. Seja egoísta. Confie em você. Não fique com medo antes que aconteça. E sempre: cuidado com quem se importa de verdade.
Eu já me importei demais, com o que as pessoas iam falar, achar e da formam que iria me julgar com o meu jeito de agir e pensar. Chorei com as palavras que me machucavam, agia sem pensar, e depois o que me restava era apenas me machucar.Os dias iam passando e ela não conseguia mudar, até que um dia chegou ao seu limite, cansou de tudo, das pessoas, e do mundo. Já não se importava se as pessoas que entravam na sua vida, iriam continuar. Se decidissem parti, eu apenas iria acenar e sorrir. Talvez as pessoas de hoje em dia não merecem tanto valor. E talvez perceba isso quando quebrar a cara. Mais quando isso acontecer, enfin você vai conhecer a realidade. Todos nós podemos ir muito longe, ser feliz, mais apenas vivendo por si. Fazer o que tem vontade de fazer sem se importar com a opinião de ninguém. Não importa o que você faça, por mais que se esforce muito, nunca vai agradar a todos, então pense em agradar a si proprio, e fazer tudo aquilo que tiver vontade de fazer, afinal, a vida é sua, e as consequencias também.

rapture lauren kate

O que faz seu coração disparar um pouco mais rápido? Apenas a tempo para Dia dos Namorados, ele é apaixonado, totalmente originais quatro novas histórias coletadas em um conjunto novo romance na Idade Média por Lauren Kate. Apaixonar-se dá aos fãs a tão falada histórias, mas nunca revelou-de personagens caídos eles se entrelaçam com a história de amor épica de Luce e Daniel. As histórias incluem: amor Onde você menos espera: A Valentim de Shelby e Miles, Love Lessons: The Valentine de Roland; Burning Love: A Valentim de Arriane e Endless Love: A Valentim de Daniel e Lucinda.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Eu já me importei demais, com o que as pessoas iam falar, achar e da formam que iria me julgar com o meu jeito de agir e pensar. Chorei com as palavras que me machucavam, agia sem pensar, e depois o que me restava era apenas me machucar.Os dias iam passando e ela não conseguia mudar, até que um dia chegou ao seu limite, cansou de tudo, das pessoas, e do mundo. Já não se importava se as pessoas que entravam na sua vida, iriam continuar. Se decidissem parti, eu apenas iria acenar e sorrir. Talvez as pessoas de hoje em dia não merecem tanto valor. E talvez perceba isso quando quebrar a cara. Mais quando isso acontecer, enfin você vai conhecer a realidade. Todos nós podemos ir muito longe, ser feliz, mais apenas vivendo por si. Fazer o que tem vontade de fazer sem se importar com a opinião de ninguém. Não importa o que você faça, por mais que se esforce muito, nunca vai agradar a todos, então pense em agradar a si proprio, e fazer tudo aquilo que tiver vontade de fazer, afinal, a vida é sua, e as consequencias também.
cansei de tudo­hoje
deu vontade de chorar e eu só queria um colo para encostar minha cabeça
e fingir que o mundo lá fora não existe. Hoje eu queria um abraço
daqueles que te sufoca de tão apertado e te protege de tudo. Hoje eu só
queria ouvir “eu te procurei pra saber se você tá bem”, só pra sentir
uma dor menos doída dentro do peito. Cansei de me sentir só. Cansei de
me preocupar com quem não se preocupa comigo. Cansei de sentir o coração
bater mais forte, com uma sensação de arrependimento, de erro.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Halo - Um Amor que Ultrapassa as Barreiras do Céu e do Inferno  Três anjos são enviados à Terra com planos de se misturarem aos humanos para assegurar a paz e trazer a bondade. Gabriel, o Herói de Deus, um antigo guerreiro que se disfarça de professor de música; Ivy, serafim abençoada com poderes de cura; e Bethany, a mais nova e inexperiente do grupo, enviada como uma jovem estudante para aprender sobre a humanidade. Após Bethany se encantar com a vida humana, ela começa a viver todas as experiências de uma adolescente normal, até se apaixonar por um rapaz e coloca toda a missão em risco. As forças do mal se aproveitarão dessa situação para pôr seus planos malignos em prática. Um romance de tirar o fôlego, que responderá a pergunta: será que o amor é forte o suficiente para vencer as forças do mal?

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Paixão - Col. Fallen - Vol. 3 
Antes que Luce e Daniel se conhecessem na Sword & Cross e tivessem lutado contra Imortais e Párias, eles viveram muitas vidas. O amor de Luce por Daniel é mais forte do que tudo, exceto, talvez, pela necessidade de saber mais sobre a história dos dois e as razões por trás da maldição que atormenta suas vidas. Levada por um impulso irracional, Luce se arrisca ao mergulhar em um Anunciador e começa a atravessar os séculos. Ao encontrar versões passadas de si mesma e de Daniel, vai recolhendo pistas que podem ajudá-la a compreender seu destino.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Daniel encarava a baía. Seus olhos estavam tão cinzentos quanto a
espessa neblina que envolvia o litoral de Sausalito e as águas agitadas que
revolviam os seixos sob seus pés. Não havia nenhum vestígio de violeta
em seus olhos agora; ele podia sentir.
Ela estava longe demais.
Apertou os braços contra o corpo para se proteger do vendaval
que batia nas águas, respingando nele. Mas, mesmo quando fechou mais
ainda seu grosso casaco de lã, sabia que não adiantaria. Caçar sempre o
deixava gelado.
Apenas uma coisa poderia esquentá-lo hoje, e ela estava fora de
seu alcance. Sentia saudades de como o topo da cabeça de Luce era o
lugar perfeito para os lábios dele descansarem. Imaginava-se
preenchendo o vazio entre seus braços com o corpo dela,se inclinando
para beijar seu pescoço. Mas era melhor que Luce não estivesse ali agora.
O que veria a deixaria horrorizada.
Atrás dele, o ruído dos leões-marinhos indo de um lado para o
outro ao longo da costa sul da Ilha Angel soava como seus sentimentos:
uma solidão dolorosa, sem ninguém por perto para ouvi-lo.
Ninguém além de Cam.
Ele estava agachado na frente de Daniel, amarrando uma âncora
enferrujada em volta da forma molhada e desajeitada aos pés dos dois.
Mesmo ocupado com algo tão sinistro, Cam era belo. Seus olhos verdes
cintilavam e o cabelo escuro fora cortado. Era a trégua; ela sempre trazia
um brilho mais intenso aos anjos, uma luminosidade ainda mais forte no
rosto e no cabelo e até mesmo uma forma mais bem-feita ao já impecável e
musculoso corpo. Dias de trégua faziam pelos anjos o que férias na praia
faziam pelos humanos.
Então, mesmo que Daniel chorasse por dentro cada vez que era
forçado a acabar com uma vida humana, para qualquer um ele pareceria
um cara voltando das férias no Havaí: relaxado, descansado, bronzeado.
Apertando um de seus elaborados nós, Cam disse:
— É tão típico de você, Daniel. Sumir e me deixar fazer o trabalho
sujo sozinho.
— Do que está falando? Fui eu quem o matou. — Daniel baixou os
olhos para o homem morto, o cabelo grisalho e crespo grudado na testa
pálida, para as mãos enrugadas e galochas de borracha barata, para o
risco vermelho-escuro no peito dele. Aquilo fez Daniel sentir frio mais uma
vez. Se essa morte não fosse necessária para garantir a segurança de
Luce, para deixá-la a salvo, Daniel nunca mais levantaria uma arma.
Nunca mais lutaria numa batalha.
E alguma coisa sobre a morte desse homem não parecia se encaixar muito
bem. Na verdade, Daniel tinha uma vaga e preocupante sensação de que
alguma coisa estava profundamente errada.
— Acabar com eles é a melhor parte. — Cam envolveu o peito do
homem com a corda, apertando bem debaixo dos braços.
— O trabalho sujo é despachá-los mar adentro.
Daniel ainda estava segurando o galho de árvore ensanguentado.
Cam tinha caçoado da escolha, mas Daniel nunca se importava com a
arma que usava. Ele podia matar com qualquer coisa.
— Rápido — grunhiu, enojado pelo óbvio prazer que Cam sentia
em derramar sangue humano. — Está perdendo tempo. A maré está
baixando.
— E, a não ser que façamos isso do meu jeito, a maré alta de
amanhã vai trazer o matador aqui de volta para a praia. Você é impulsivo
demais, Daniel, sempre foi. Alguma vez já planejou algo um pouco mais à
frente?
Daniel cruzou os braços e olhou para trás em direção às cristas
brancas das ondas. Uma balsa turística do cais de São Francisco estava
deslizando na direção deles. Tempos atrás, a visão daquele barco poderia
ter trazido de volta uma enxurrada de memórias. Mil viagens felizes que
havia feito com Luce através de mares ao longo de encarnações
diferentes. Mas, agora — agora que ela podia morrer e nunca mais voltar,
nessa vida onde tudo havia mudado e não haveria mais encarnações —,
Daniel estava sempre muito ciente de como a memória dela estava em
branco.
Essa era a última chance, para ambos. Para todo mundo, na
verdade. Portanto, era a memória de Luce, e não a de Daniel, que
importava, e se ela desejasse sobreviver, inúmeras verdades terríveis
precisariam ser reveladas. Só de pensar em tudo o que ela precisava
descobrir fazia seu corpo todo ficar tenso.
Se Cam achava que Daniel não estava planejando à frente, estava
muito enganado.
— Você sabe que só existe um motivo para eu ainda estar aqui —
disse Daniel. — Precisamos conversar sobre ela.
Cam riu.
— Ia fazer isso. — Com um grunhido, ele jogou o cadáver
Lauren Kate
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ensopado por cima do ombro. O terno azul-marinho do morto se enrugou
entre as voltas de corda que Cam tinha amarrado. A pesada âncora
descansava no peito ensanguentado.
— Esse aqui é meio esquisito, não é? — perguntou Cam. — Estou
quase ofendido que os Anciões não tenham mandado um assassino mais
desafiador.
Em seguida — como se fosse um arremessador olímpico de peso
—, Cam dobrou os joelhos, girou três vezes para ganhar velocidade, e
lançou o homem morto na água, mais de trezentos metros pelo mar
adentro.
Durante alguns longos segundos, o cadáver percorreu a baía.
Então, o peso da âncora o puxou para baixo... para baixo... Cada vez mais.
Quando caiu, espirrou água do profundo mar verde-azulado. Mas quase
instantaneamente afundou e sumiu de vista.
Cam limpou as mãos e disse:
— Acho que acabo de bater um recorde.
Eles se pareciam de tantas maneiras. Mas Cam era algo ruim, um
demônio, e por isso era capaz de atos desprezíveis sem o menor remorso.
Daniel estava aleijado pelo remorso. E, nesse momento, estava ainda
mais aleijado pelo amor.
— Você não leva a vida humana a sério — disse Daniel.
— Esse cara mereceu — respondeu Cam. — Realmente não vê
diversão nisso tudo?
Nesse momento, Daniel o encarou e esbravejou:
— Ela não é um jogo para mim.
— E é exatamente por isso que você vai perder.
Daniel segurou Cam pela gola de seu casaco cinza-escuro.
Pensou em jogá-lo na água da mesma maneira que ele acabara de jogar o
predador.
Uma nuvem atravessou na frente do sol, sombreando o rosto de
ambos.
— Calma — disse Cam, afastando as mãos de Daniel. — Você
tem inimigos de sobra, Daniel, mas, nesse momento, não sou um deles.
Lembre-se da trégua.
— Uma trégua e tanto — reclamou Daniel. — Dezoito dias em que
outros tentam matá-la.
— Dezoito dias em que você e eu acabamos com eles — corrigiu
Cam.
Era uma tradição angélica que a trégua durasse dezoito dias. No
Céu, dezoito era o número mais divino e de sorte: uma afirmação da vida
feita por setes (os arcanjos e as virtudes cardeais), e equilibrada pela
TORMENTA
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advertência dos quatro cavaleiros do Apocalipse. Em alguns idiomas
mortais, dezoito passara a significar a própria vida — apesar de, nesse
caso, para Luce poder facilmente significar tanto a vida quanto a morte.
Cam tinha razão. Conforme a notícia da mortalidade de Luce se
espalhasse pelas camadas celestes, as hordas de inimigos iriam dobrar e
quadruplicar a cada dia. A Srta. Sophia e seus soldados, os 24 Anciãos de
Zhsmaelin, ainda estavam atrás de Luce. Daniel vira os Anciãos nas
sombras lançadas pelos Anunciadores naquela mesma manhã. Ele havia
visto outra coisa também — outra escuridão, uma artimanha mais
elaborada, uma que a princípio ele não reconhecera.
Um raio de luz solar atravessara as nuvens, e alguma coisa brilhou
na visão periférica de Daniel. Ele se virou e se ajoelhou, encontrando uma
única flecha espetada na areia molhada. Era mais fina que uma flecha
comum, de um prata esmaecido, adornada por desenhos um espiral.
Estava quente ao toque.
Daniel parou de respirar por um momento. Há uma eternidade não
via uma seta estelar. Seus dedos tremiam enquanto gentilmente retirava-a
da areia, tomando cuidado para não tocar a ponta afiada e mortal.
Agora Daniel sabia de onde aquela outra escuridão viera em meio
às sombras dos Anunciadores naquela manhã. As notícias eram ainda
piores do que temia. Ele se virou para Cam, com a flecha leve como uma
pluma equilibrada sobre uma das mãos.
— Ele não estava agindo só.
Cam se enrijeceu ao ver a flecha. Moveu-se em direção a ela
quase com reverência, estendendo a mão para tocá-la da mesma maneira
que Daniel havia feito.
— Uma arma tão valiosa para ser deixada para trás. O Pária devia
estar com muita pressa para fugir.
Os Párias: uma facção de anjos covardes e tagarelas, evitados
tanto pelo Céu quanto pelo Inferno. Sua grande força estava no recluso
anjo Azazel, o único ferreiro remanescente daquele tipo, que ainda
conhecia a arte da confecção de setas estelares. Quando disparada por
seu arco de prata, uma seta estelar não deixava mais do que um ponto
dolorido em um mortal, mas, para anjos e demônios, aquela era a arma
mais mortal de todas.
Todos as queriam, mas ninguém estava disposto a se associar aos
Párias, então a troca de setas estelares era sempre feita
clandestinamente, por meio de algum mensageiro. O que significava que o
homem que Daniel eliminara não era nenhum matador enviado pelos
Anciãos. Era um simples contrabandista. O Pária, o verdadeiro inimigo,
havia se afastado — provavelmente assim que vira Daniel e Cam. Daniel
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sentiu um arrepio. Essa notícia não era nada boa.
— Matamos o cara errado.
— Como “errado”? — replicou Cam. — O mundo não ficou melhor
com um predador a menos? Luce não está mais segura? — Ele encarou
Daniel, e depois o mar. — O problema é que...
— Os Párias.
Cam assentiu.
— Então agora eles também a querem.
Daniel podia sentir as pontas de suas asas se eriçando por baixo
do suéter de cashmere e do casaco pesado, uma coceira ardente que o
fazia tremer. Ele ficou parado, os olhos fechados e os braços caídos,
lutando para se controlar antes que suas asas explodissem como as velas
de um navio se desenrolando violentamente, levando-o para o alto e para
fora da ilha, em direção à baía. Em direção a ela.
Ele fechou os olhos e tentou imaginar Luce. Fora um esforço
monumental abandonar aquela cabine, e o sono tranquilo dela na pequena
ilha a leste de Tybee. Já era noite lá. Será que ela estava acordada? Será
que estava com fome?
A batalha na Sword & Cross, as revelações, a morte de sua amiga,
tudo aquilo havia abalado muito Luce. Os anjos esperavam que ela
dormisse por um dia e uma noite inteiros. Mas, na amanhã seguinte,
precisavam ter um plano pronto.
Essa havia sido a primeira vez que Daniel propusera uma trégua.
Definir os limites, fazer as regras, e elaborar um sistema de consequências
caso qualquer um dos lados desobedecesse às regras — era uma imensa
responsabilidade a se dividir com Cam. É claro que ele faria isso, faria
qualquer coisa por ela... Só queria ter certeza de que estava fazendo tudo
certo.
— Temos que escondê-la em algum lugar seguro — dissera.
— Há uma escola ao norte, perto de Fort Bragg...
— A Shoreline. — Cam assentiu. — Os meus também já pensaram
nisso. Ela ficará feliz lá. Será educada em um lugar que não a colocará em
perigo. E, acima de tudo, estará protegida.
Gabbe já havia explicado a Daniel que tipo de camuflagem a
Shoreline podia proporcionar. Em breve, a notícia de que Luce estava
escondida lá se espalharia, mas, ao menos durante um tempo, no
perímetro da escola, ela estaria praticamente invisível.
Lá dentro, Francesca, o anjo mais próximo a Gabbe, cuidaria de
Luce. Do lado de fora, Daniel e Cam caçariam e matariam qualquer um que
ousasse se aproximar das fronteiras da escola.
Quem teria contado a Cam sobre a Shoreline? Daniel não gostava
TORMENTA
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da ideia dos aliados de Cam saberem mais do que os dele. Já estava se
amaldiçoando por não ter visitado a escola antes de tomar essa decisão,
mas fora difícil o suficiente deixar Luce quando foi preciso.
— Ela pode começar amanhã de manhã. Contanto... — os olhos
de Cam examinaram o rosto de Daniel. — Contanto que você esteja de
acordo.
Daniel tocou o bolso da frente de sua camisa, onde guardava uma
fotografia recente. Luce no lago da Sword & Cross, o cabelo molhado
brilhando e um raro sorriso em seu rosto. Geralmente, quando finalmente
conseguia uma foto dela numa de suas encarnações, já a tinha perdido de
novo. Dessa vez ela ainda estava lá.
— Vamos, Daniel — disse Cam. — Nós dois sabemos do que ela
precisa. Nós a matriculamos... depois a deixamos em paz. Não há nada
que possamos fazer para apressar essa fase, a não ser deixá-la sozinha.
— Não posso deixá-la sozinha por tanto tempo assim. — Daniel havia
soltado aquelas palavras rápido demais. Ele baixou os olhos para a flecha
em suas mãos, sentindo-se enjoado.
Queria atirá-la no oceano, mas não podia.
— Então. — Cam apertou os olhos. — Não contou a ela.
Daniel congelou.
— Não posso contar nada a ela. Nós poderíamos perdê-la.
— Você poderia perdê-la — zombou Cam.
— Sabe o que quero dizer. — Daniel enrijeceu. — É arriscado
demais achar que ela poderia compreender tudo sem...
Fechou os olhos para espantar a imagem das aterrorizantes
chamas vermelhas. Mas elas estavam sempre ardendo no fundo de seus
pensamentos, com a ameaça iminente de se espalharem como um
incêndio florestal. Se contasse a verdade a ela e isso a matasse, dessa vez
Luce realmente desapareceria. E seria culpa dele. Daniel não poderia
fazer nada — não poderia existir — sem ela. Suas asas arderam com
aquele pensamento. Melhor protegê-la por apenas mais algum tempo.
— Que conveniente para você — murmurou Cam. — Só espero
que ela não fique desapontada.
Daniel o ignorou.
— Acha que ela vai conseguir aprender algo nessa escola?
— Sim — respondeu Cam lentamente. — Contanto que
concordemos que ela não terá distrações externas. Isso significa nada de
Daniel, nada de Cam. Esta precisa ser nossa regra fundamental. Não vê-la
durante dezoito dias? Daniel não podia nem imaginar. Também não
conseguia imaginar Luce concordando com isso. Acabaram de se
encontrar nessa vida e finalmente tinham uma chance de ficarem juntos.
Lauren Kate
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Mas, como de costume, explicar os detalhes poderia matá-la. Ela
não podia ouvir sobre suas vidas passadas através dos anjos. Luce ainda
não sabia, mas, muito em breve, ela teria que compreender tudo...
sozinha.
A verdade de que não se podia falar — e principalmente o que
Luce acharia dela — aterrorizava Daniel. Mas Luce precisava descobri-la
sozinha para se libertar daquele horrível ciclo vicioso. Por isso sua
experiência na Shoreline seria crucial. Durante dezoito dias, Daniel
poderia matar todos os Párias que atravessassem seu caminho. Mas,
quando a trégua acabasse, tudo estaria nas mãos de Luce, mais uma vez.
Nas mãos de Luce, e de mais ninguém.
O sol estava se pondo sobre o Monte Tamalpais e a neblina
noturna se assentava.
— Deixe-me levá-la para a Shoreline — disse Daniel. Seria a
última chance de vê-la.
Cam o olhou de um jeito estranho, pensando se deveria permitir.
Mais uma vez, Daniel teve que fazer um esforço consciente para que as
asas permanecessem em suas costas.
— Tudo bem — respondeu Cam, finalmente. — Mas quero a seta
estelar em troca.
Daniel entregou a arma, e Cam a guardou dentro de seu casaco.
— Leve-a até a escola e então me encontre. Não faça besteira;
estarei atento.
— E depois?
— Nós dois precisamos caçar.
Daniel assentiu e desenrolou suas asas, sentindo o profundo
prazer de libertá-las correndo por todo o corpo. Ficou parado por um
momento, juntando energias, sentindo a resistência cruel do vento. Hora
de partir desse lugar amaldiçoado e feio, de deixar suas asas levarem-no
de volta para um lugar onde podia ser ele mesmo.
De volta para Luce.
E de volta para a mentira que ele teria que manter por mais algum
tempo.
— A trégua começa à meia-noite de amanhã — falou Daniel,
espalhando um jato de areia às suas costas enquanto subia e atravessava
o céu.
TORMENTA
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DEZOITO DIAS
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1
Luce se forçou a ficar de olhos fechados durante as seis horas de
voo para atravessar o país, da Geórgia até a Califórnia, até as rodas do
avião tocarem o chão de São Francisco. Assim, quase dormindo, era bem
mais fácil fingir que já estava com Daniel.
Parecia que se passara uma vida inteira desde a última vez em
que ela o vira, apesar de terem sido na verdade apenas alguns dias. Desde
que se despediram na Sword & Cross, Sexta de manhã, Luce sentia-se
fraca. A ausência da voz dele, de seu calor, do toque de suas asas: aquilo
doía nos ossos, como uma doença estranha.
Um braço encostou no seu, e Luce abriu os olhos. Ela estava a
centímetros de um homem de olhos grandes e cabelos castanhos, alguns
anos mais velho do que ela.
— Desculpe — disseram os dois ao mesmo tempo, cada qual se
afastando alguns centímetros para lados opostos do braço da poltrona do
avião.
A vista era deslumbrante do lado de fora da janela. O avião estava
aterrissando em São Francisco, e Luce nunca vira nada como aquilo.
Enquanto cruzavam a parte sul da baía, um afluente azul parecia
atravessar a terra a caminho do mar. O córrego dividia um campo verde
arrebatador: de um lado um redemoinho de algo vermelho de outro lado
era branco. Ela encostou a testa na janela do avião e tentou enxergar
melhor.
— O que é aquilo? — perguntou-se em voz alta.
— Sal — respondeu o homem, apontando. Ele se inclinou para
mais perto. — Sai do Pacífico.
A resposta era tão simples, tão... humana. Quase uma surpresa
depois do tempo que ela passara com Daniel e os outros — ainda não tinha
prática em usar aqueles termos de forma literal — anjos e demônios. Ela
olhou para a água azul-escura, que parecia se estender infinitamente a
oeste. O sol batendo nas águas sempre significara manhã para Luce, que
crescera na costa do Atlântico. Mas aqui já era quase noite.
— Você não é daqui, é? — perguntou seu colega de poltrona. Luce
confirmou com a cabeça, mas segurou a língua. Ela continuou encarando
a janela. Antes de deixar a Geórgia nessa manhã, o Sr. Cole a havia
instruído a ser discreta. Os outros professores achavam que os pais de
Lauren Kate
Luce haviam pedido que ela fosse transferida, mas era mentira. Para os
pais de Luce, Callie, e qualquer outra pessoa que a conhecesse, ela ainda
estava matriculada na Sword & Cross.
Algumas semanas antes, isso a teria deixado enfurecida. Mas os
acontecimentos naqueles últimos dias na Sword & Cross transformaram
Luce em uma pessoa que levava o mundo mais a sério. Ela tivera um
vislumbre de outra encarnação — uma das muitas que partilhara com
Daniel antes, e descobrira um amor mais profundo do que ela jamais
achara ser possível existir. E depois havia visto tudo aquilo ser ameaçado
por uma velha louca, em quem achava que podia confiar, brandindo um
punhal.
Havia mais pessoas por aí como a Srta. Sophia, Luce sabia disso.
Mas ninguém lhe explicara como reconhecê-las. A Srta. Sophia parecia
normal até então. Será que os outros poderiam parecer tão inocentes
quanto... esse cara de cabelo castanho sentado ao seu lado? Luce engoliu
em seco, cruzou as mãos sobre o colo, e tentou pensar em Daniel.
Daniel estava levando-a para um lugar seguro.
Luce imaginou-o esperando por ela numa daquelas cadeiras de
plástico cinzentas de aeroporto, com os cotovelos apoiados nos joelhos, a
cabeça loira caída entre os ombros. Balançando para a frente e para trás
sobre o par de All Star preto. Levantando-se de poucos em poucos minutos
para andar de um lado da esteira até o outro.
Sentiu um solavanco quando o avião tocou o solo. Subitamente
ela estava nervosa. Será que Daniel ficaria tão feliz em vê-la quanto ela
estava em vê-lo?
Ela concentrou sua atenção na estampa marrom e bege do tecido
da poltrona à frente. Seu pescoço estava tenso por causa do longo voo, e
as roupas tinham aquele cheiro de ambiente fechado de avião. Os
trabalhadores de roupa azul-marinho do outro lado das janelas pareciam
estar demorando mais do que o normal para direcionar o avião para a
vaga. Seus joelhos balançavam-se de impaciência.
— Então você vai ficar na Califórnia por algum tempo? — O cara
ao lado dela abriu um sorriso preguiçoso que só deixou Luce com ainda
mais vontade de se levantar.
— Por que acha isso? — perguntou ela rapidamente. — O que o
fez pensar assim?
Sem entender, ele respondeu:
— Essa bolsa de viagem vermelha imensa e tal.
Luce se afastou dele alguns centímetros. Ela nem havia notado
esse cara até dois minutos atrás, quando ele esbarrara nela, acordando-a.
Como ele sabia sobre sua bagagem?
TORMENTA
9
— Ei, não precisa ficar assustada. — Ele olhou de forma estranha
para ela. — Eu só estava atrás de você na fila do check-in.
Luce sorriu, sem jeito.
— Tenho namorado — soltou sem querer. Instantaneamente, seu
rosto ficou vermelho.
O homem tossiu.
— Certo, entendi.
Luce fez uma careta. Ela não sabia por que havia dito aquilo. Não
queria ser grosseira, mas já podia soltar o cinto de segurança e tudo que
ela queria era ir pra longe daquele cara e daquele avião. O homem deve ter
percebido, pois voltou um pouco no corredor e estendeu a mão para a
frente. O mais educadamente possível, Luce passou à sua frente e seguiu
para a saída.
Logo adiante, porém, acabou engarrafada na agonizante e lenta
fila para sair do avião. Silenciosamente amaldiçoando todos os
californianos relaxados que se embaralhavam na frente dela, Luce ficou na
ponta dos pés, impaciente. Quando pisou no terminal, já estava louca de
irritação.
Finalmente podia se mexer. Com habilidade, abriu caminho entre
a multidão e se esqueceu completamente do cara que conhecera no avião.
Esqueceu-se de ficar nervosa por nunca ter estado na Califórnia — nunca
ter ido além de Branson, Missouri, naquela vez em que seus pais a
arrastaram para assistir a uma comédia de Yakov Smirnoff. E, pela
primeira vez em dias, ela até esqueceu por um momento das coisas
horríveis pelas quais passara na Sword & Cross. Estava andando em
direção à única coisa no mundo que tinha o poder de fazê-la se sentir
melhor.
A única coisa que podia fazê-la sentir que toda a angústia pela qual
passara — todas as sombras, aquela batalha irreal no cemitério, e o pior de
tudo, a dor pela morte de Penny — poderia ter valido a pena.
Lá estava ele.
Sentado exatamente como ela imaginara, na última fileira de um
bloco sem graça de cadeiras cinzentas ao lado de uma porta automática
que abria e fechava atrás dele. Por um segundo, Luce parou e
simplesmente admirou a cena.
Daniel usava chinelos e jeans escuros que ela nunca vira antes, e
uma camisa vermelha velha com um rasgo perto do bolso da frente. Ele
parecia igual, mas de alguma maneira também diferente.
Mais relaxado do que estivera quando se despediram no outro dia.
E era só por sentir tanto sua falta, ou a pele dele estava mesmo ainda mais
radiante do que ela se lembrava? Daniel levantou os olhos e finalmente a
Lauren Kate
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viu. Seu sorriso praticamente cintilava.
Luce disparou na direção dele. Em um segundo, os braços de
Daniel estavam em volta dela, seu rosto enterrado no peito dele, e Luce
soltou um suspiro longo e profundo. Sua boca encontrou a dele e os dois
mergulharam num beijo. Ela ficou relaxada e feliz em seus braços.
Não havia percebido até agora, mas uma parte sua tinha se
perguntado se o veria novamente, se aquilo tudo havia sido um sonho. O
amor que sentia, o amor que Daniel retribuía, tudo ainda parecia tão
surreal.
Ainda inebriada pelo beijo, Luce beliscou o braço dele levemente.
Não era sonho. Pela primeira vez em sabe-se lá quanto tempo, sentia-se
em casa.
— Você está aqui — sussurrou ele em seu ouvido.
— Você está aqui.
— Nós dois estamos aqui.
Eles riram, ainda se beijando, acabando com qualquer resquício
da doce estranheza do reencontro. Mas, quando Luce mal esperava, sua
risada virou um choramingo. Ela estava procurando uma maneira de dizer
como os últimos dias haviam sido difíceis — sem ele, sem ninguém, meio
adormecida e grogue, ciente de que tudo estava diferente —, mas nos
braços de Daniel ela não conseguia achar as palavras.
— Eu sei — disse ele. — Vamos pegar a mala e dar o fora daqui.
Luce andou até a esteira e viu seu vizinho de avião parado na
frente dela, as alças de sua imensa bolsa vermelha nas mãos.
— Eu vi isso passando — falou, com um sorriso forçado no rosto,
como se quisesse de qualquer maneira provar que suas intenções eram
boas. — É sua, não é?
Antes que Luce tivesse tempo de responder, Daniel tirou o peso do
homem, usando apenas uma das mãos.
— Obrigado, cara. Eu cuido disso daqui em diante — disse, com
determinação o bastante para terminar a conversa.
O homem observou enquanto Daniel passava a outra mão em
volta da cintura de Luce e a levava para longe. Essa era a primeira vez
desde a Sword & Cross em que ela podia ver Daniel pelos olhos do mundo,
sua primeira chance de se perguntar se os outros podiam perceber, só de
olhar, que havia algo de extraordinário nele.
Então passaram pelas portas de vidro automáticas e ela respirou
pela primeira vez o ar da costa oeste. O ar do início de novembro parecia
fresco e vivo, mais saudável de alguma maneira, diferente do ar úmido e
gelado da Savannah naquela tarde, quando o avião decolara. O céu era de
um azul brilhante, sem nuvens no horizonte. Tudo parecia novo e limpo —
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até mesmo o estacionamento, com suas inúmeras fileiras de carros recémlavados.
Um horizonte de montanhas emoldurava tudo, marrons com
pequenos pontos de árvores verdes, uma colina encostada na outra.
Ela não estava mais na Geórgia.
— Não consigo decidir se fico surpreso — provocou
Daniel. — Você sai debaixo da minha asa durante dois dias e outro cara já
se intromete.
Luce revirou os olhos.
— Qual é. Mal nos falamos. Sério, dormi o voo inteiro. — Ela o
cutucou. — Sonhei com você.
Os lábios de Daniel se abriram num sorriso e ele beijou o topo de
sua cabeça. Ela ficou imóvel, querendo mais, nem percebendo que Daniel
havia parado na frente de um carro. E não era um carro qualquer.
Um Alfa Romeo preto.
O queixo de Luce caiu quando Daniel abriu a porta do carona.
— I-isso... — gaguejou ela. — I-isso... Você sabia que esse é o
carro dos meus sonhos?
— Melhor do que isso — riu Daniel. — Esse costumava ser o seu
carro.
Ele riu quando Luce praticamente saltou com aquelas palavras.
Ainda estava se acostumando com essa história de reencarnação. Era tão
injusto. Um carro do qual nem se lembrava. Vidas inteiras das quais ela
não se lembrava. Estava desesperada para se recordar, quase como se as
Luces anteriores fossem irmãs de quem havia sido separada ao nascer.
Ela colocou uma das mãos no painel, tentando despertar alguma coisa,
algum déjà-vu.
Nada.
— Foi um presente de 16 anos de seus pais algumas vidas atrás.
— Daniel olhou para os lados, como se estivesse tentando decidir o quanto
contar. Como se soubesse que ela estava ávida por detalhes, mas não
fosse conseguir descobrir muitos ao mesmo tempo. — Acabei de comprar
de um cara em Reno. Ele comprou depois que você... Bem, depois de
você...
Entrar em combustão espontânea, pensou Luce, completando a
amarga verdade de que Daniel não falava. Esse era um ponto em comum
entre suas vidas passadas: o final raramente mudava.
Dessa vez, porém, pelo que parecia, isso poderia acontecer.
Dessa vez poderiam dar as mãos, se beijar, e... ela não sabia o que mais
poderiam fazer, mas estava louca para descobrir. Ela tentou se controlar.
Precisavam ter cuidado. Dezessete anos não eram suficientes e, nessa
vida, Luce estava determinada a ficar por aqui para ver como realmente
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era estar com Daniel.
Ele limpou a garganta e bateu de leve no capô preto e brilhante.
— Ainda corre como um campeão. O único problema é... — Ele
olhou para o pequeno porta-malas do conversível, depois para a mala de
Luce, depois de volta ao porta-malas.
Sim, Luce tinha um terrível hábito de colocar coisas demais na
mala, ela mesma seria a primeira a admitir. Mas, dessa vez, não era culpa
sua. Ariane e Gabbe haviam arrumado seus pertences do dormitório na
Sword & Cross, guardando cada item preto e não preto de roupa que ela
não tivera chances de usar.
Estivera muito ocupada se despedindo de Daniel e de Penn para
arrumar as malas. Ela fez uma careta, se sentindo culpada por estar na
Califórnia com Daniel, tão longe de onde deixara a amiga enterrada. Não
parecia justo. O Sr. Cole assegurou-lhe de que a Srta. Sophia pagaria pelo
que fizera a Penn, mas quando Luce o pressionou para saber o que
exatamente ele queria dizer com aquilo, ele cofiara o bigode e se fechara.
Daniel olhou com desconfiança em volta do estacionamento. Ele
abriu o porta-malas, com a imensa mala de Luce numa das mãos. Não
havia possibilidade de caber, mas então um som suave de sucção veio da
traseira do carro e a mala de Luce começou a encolher. Um momento
depois, Daniel fechou o porta-malas.
Luce ficou impressionadíssima.
— Faz isso de novo!
Daniel não riu, parecia nervoso. Ele sentou no banco do motorista
e ligou o carro sem dar uma palavra. Era uma coisa nova e estranha para
Luce: ver seu rosto aparentemente tão sereno, mas conhecê-lo bem o
bastante para perceber que havia alguma coisa escondida em seu íntimo.
— O que foi?
— O Sr. Cole lhe avisou para manter discrição, certo?
Luce assentiu.
Daniel deu ré, então virou o carro na direção da saída do
estacionamento, enfiando um cartão na máquina que liberava a catraca.
— Isso foi idiotice. Eu devia ter pensado...
— Qual é o problema? — Luce colocou o cabelo escuro atrás das
orelhas quando o carro começou a ganhar velocidade.
— Acha que encaixar uma bagagem num porta-malas vai atrair a
atenção de Cam?
Daniel ficou com um olhar distante e sacudiu a cabeça.
— Não de Cam. Não. — Um momento depois, ele apertou o joelho
dela. — Esqueça o que eu disse. Eu só... Nós só precisamos ter cuidado.
Luce ouviu, mas estava esfuziante demais para prestar atenção. Ela
TORMENTA
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amava observar Daniel dirigindo enquanto subiam a estrada e
ultrapassavam o tráfego todo; amava a sensação do vento chicoteando o
carro enquanto aceleravam na direção do imponente horizonte de São
Francisco; amava — mais do que tudo — simplesmente estar com Daniel.
Em São Francisco, as estradas eram muito mais inclinadas. Toda
vez que chegavam a um pico e começavam a descer de novo, Luce via
uma faceta diferente da cidade. Parecia antiga e moderna ao mesmo
tempo: arranha-céus espelhados lado a lado com restaurantes e bares que
pareciam ter um século de idade. Pequenos carros espalhados pelas ruas,
estacionados em ângulos que desafiavam a gravidade. O brilho da água
azul envolvendo toda a cidade. E o primeiro vislumbre em vermelho da
ponte Golden Gate a distância.
Seus olhos iam de um lado para o outro, tentando absorver todas
aquelas imagens. E, mesmo que tivesse passado a maior parte dos
últimos dias dormindo, subitamente Luce foi tomada por uma onda de
exaustão.
Daniel esticou o braço livre em volta dela, trazendo a cabeça de
Luce até seu ombro.
— Um fato pouco conhecido sobre os anjos é que somos
excelentes travesseiros.
Luce riu, levantando a cabeça para beijar a bochecha dele.
— Nunca conseguiria dormir — respondeu, aconchegando-se no
pescoço de Daniel.
Na ponte Golden Gate, uma multidão de pedestres, ciclistas de
spandex e corredores flanqueavam os carros. Lá embaixo ficava a baía
brilhante, pontilhada de pequenos veleiros brancos e as nuances iniciais
de um pôr do sol violeta.
— Já se passaram dias desde que nos vimos pela última vez.
Quero saber das novidades — disse ela. — Me conte o que andou fazendo.
Conte tudo.
Por um instante, Luce pensou ter notado Daniel apertando o
volante com mais força.
— Se seu objetivo é não dormir — disse ele, abrindo um sorriso —,
então eu realmente não deveria entrar em detalhes sobre as minúcias da
reunião de oito horas do Conselho dos Anjos onde fiquei preso o dia de
ontem todo. Sabe, o comitê se reuniu para discutir uma emenda à
proposição 362B, que detalha o formato sancionado para a participação
angelical no terceiro circuito...
— Tá bom, tá bom, já entendi. — Luce fez um gesto com as mãos.
Daniel estava brincando, mas era um tipo de brincadeira nova e estranha.
Ele estava sendo aberto quanto a ser um anjo, o que ela adorava — ou pelo
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menos adoraria, assim que tivesse um pouco mais de tempo para
compreender tudo. Luce ainda sentia como se seu coração e cérebro
estivessem lutando para se adaptar às mudanças em sua vida.
Mas agora eles estavam juntos de novo, de verdade, então tudo
era infinitamente mais fácil. Não havia mais nada para esconder um do
outro. Ela puxou o braço dele, dizendo:
— Pelo menos me conte para onde estamos indo.
Daniel hesitou, e Luce sentiu um frio tomando seu estômago. Ela
se moveu para colocar a mão sobre a dele, mas ele a afastou para mudar a
marcha.
— Vamos para uma escola em Fort Bragg chamada Shoreline.
As aulas começam amanhã.
— Vamos entrar em outra escola? — perguntou ela. — Por quê?
— Parecia tão permanente. Essa viagem era para ser provisória. Seus
pais nem sabiam que ela havia deixado o estado da Geórgia.
— Vai gostar da Shoreline. É muito progressiva, e bem melhor que
a Sword & Cross. Acho que vai conseguir... se desenvolver lá. E nenhum
mal poderá lhe atingir. A escola tem uma qualidade especial, protetora. Um
escudo, tipo uma camuflagem.
— Não entendo. Por que preciso de um escudo? Achei que vir
para cá, para longe da Srta. Sophia, fosse o bastante.
— Não é apenas a Srta. Sophia — disse Daniel, baixinho.
—Existem outros.
— Quem? Você pode me proteger de Cam ou Molly, ou de quem
quer que seja. — Luce riu, mas a sensação gelada em seu estômago
estava se espalhando.
— Também não se trata de Cam nem de Molly, Luce. Não posso
falar sobre isso.
— Vamos conhecer mais alguém lá dentro? Outros anjos?
— Tem alguns anjos lá, sim. Ninguém que você conheça, mas
tenho certeza de que vão se dar bem. Tem mais uma coisa. — Sua voz
estava fria agora, e ele olhava fixamente para a frente.
— Não vou estudar lá. — Seus olhos não saíram da estrada nem
uma única vez. — Só você. É só por um tempinho.
— Quanto tempo?
— Algumas... semanas.
Se Luce estivesse atrás do volante, esse era o momento em que
ela teria pisado no freio com toda a força.
— Algumas semanas?
— Se eu pudesse ficar com você, ficaria. — A voz de Daniel estava
tão sem emoção, tão estável, que deixou Luce ainda mais chateada. —
TORMENTA
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Sabe o que aconteceu com sua bagagem e o portamalas? Aquilo foi como
atirar um sinalizador para o céu, avisando a todos onde estamos.
Alertando qualquer um que esteja procurando por mim — e principalmente
por você. Sou fácil demais de se achar, fácil demais de ser rastreado pelos
outros. E aquele truque com sua mala? Aquilo não é nada comparado às
coisas que faço todo dia, coisas que atrairiam a atenção de...
— Ele balançou a cabeça, decidido. — Não vou colocá-la em
perigo, Luce, não posso.
— Então não faça isso.
A expressão era uma máscara de sofrimento.
— É complicado.
— E deixe-me adivinhar: você não pode me explicar.
— Gostaria que fosse diferente.
Luce levou os joelhos até o peito, afastando-se dele para se
encostar na porta do passageiro. De alguma maneira, ela se sentia
claustrofóbica sob aquele imenso céu azul da Califórnia.
...
Durante meia hora, os dois prosseguiram em silêncio. Entrando e saindo
de trechos cobertos de neblina, subindo e descendo o terreno rochoso e
árido. Passaram por placas de Sonoma, e, enquanto o carro atravessava
abundantes vinhedos verdes, Daniel falou:
— São mais três horas até Fort Bragg. Vai ficar com raiva de mim
esse tempo todo?
Luce o ignorou. Ela pensava e se recusava a dar voz a centenas
de perguntas, frustrações, acusações, e, por fim, desculpas, por agir como
uma criança mimada. Na saída de Anderson Valley, Daniel virou a oeste e
tentou mais uma vez segurar a mão dela:
— Será que você vai me perdoar a tempo de aproveitar nossos
últimos minutos juntos?
Ela queria. Queria muito não estar brigando com Daniel nesse
momento. Mas a mera existência de algo como “últimos minutos juntos”, o
fato de que ele a deixaria sozinha por razões que ela não conseguia
compreender, e que ele sempre se recusava a explicar — aquilo deixava
Luce nervosa, aterrorizada e muito frustrada. Naquele maremoto — um
novo estado, uma nova escola, além de novos perigos por toda parte —,
Daniel era o único porto seguro no qual podia se segurar. E ele estava
prestes a deixá-la? Ela já não havia sofrido o bastante? Os dois já não
Lauren Kate
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haviam sofrido o bastante?
Foi apenas depois de terem passado pelo Parque Nacional de
Redwood para encontrarem uma noite estrelada e azul que Daniel
conseguiu fazê-la ceder. Haviam acabado de passar por uma placa que
dizia bem-vindo a mendocino, e Luce estava olhando para o oeste. A lua
cheia brilhava sobre um amontoado de construções: um farol, diversas
torres de água feitas de cobre, e fileiras de velhas casas de madeira bemcuidadas.
Em algum lugar além daquilo tudo estava o oceano, que ela
podia ouvir, mas não ver.
Daniel apontou para o leste, para uma floresta escura e densa de
sequoias e bordos.
— Está vendo aquele estacionamento de trailers ali na frente?
Ela nunca teria visto aquilo se ele não tivesse apontado, mas Luce
apertou os olhos para localizar uma estrada estreita, onde uma placa de
madeira coberta de limo dizia trailers mendocino em letras caiadas.
— Você costumava viver bem ali.
— O quê? — Luce ficou sem fôlego. O susto foi tamanho que
começou a tossir. O estacionamento parecia triste e solitário, uma fileira
sem graça de caixas idênticas de teto baixo, dispostas ao longo de uma
estrada de cascalhos barata. — Isso é horrível.
— Você vivia aqui antes de isso ser um estacionamento de trailers
— disse Daniel, parando o carro na beira da estrada. — Antes de existirem
trailers. Seu pai naquela vida trouxe a família de Illinois para cá durante a
corrida do ouro. — Ele parecia estar refletindo, pensativo, então balançou
a cabeça com tristeza. — Costumava ser um lugar muito bom.
Luce olhou para um homem careca, com a barriga estufada, que
puxava um cachorro caramelo pela coleira. O homem estava usando uma
regata branca e bermuda. Luce não conseguia se imaginar ali de jeito
nenhum.
Ainda assim, tudo parecia tão nítido para Daniel.
— Havia uma choupana de dois quartos e sua mãe era péssima
cozinheira, então o lugar inteiro sempre cheirava a repolho. As cortinas do
seu quarto eram azuis de algodão e eu costumava abri-las para entrar pela
janela à noite, depois que seus pais caíam no sono.
O carro morreu. Luce fechou os olhos e tentou conter as lágrimas
idiotas. Descobrir a história dos dois por Daniel fez com que parecesse ao
mesmo tempo possível e impossível. Escutar aquilo também a fez se sentir
extremamente culpada. Daniel tinha ficado ao lado dela por tanto tempo,
durante tantas encarnações.
Ela esquecera de como ele a conhecia bem, melhor até do que ela
conhecia a si mesma. Será que Daniel sabia o que ela estava pensando
TORMENTA
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agora? Luce pensou se, de alguma forma, era mais fácil ser ela e nunca se
lembrar de Daniel, do que ser ele e passar por isso tantas vezes. Se ele
disse que tinha que deixá-la por algumas semanas e não podia explicar a
razão... Teria que confiar nele.
— Como foi quando me conheceu? — perguntou ela.
Daniel sorriu.
— Eu cortava lenha em troca de comida naquela época. Uma
noite, na hora do jantar, estava passando por sua casa. Sua mãe estava
fazendo repolho, e fedia tanto que quase saí correndo. Mas então eu a vi
pela janela. Você estava costurando. Eu não conseguia tirar os olhos de
suas mãos.
Luce olhou para suas mãos, os dedos pálidos e cônicos, as
palmas quadradas e pequenas. Ela se perguntou se elas foram sempre
iguais. Daniel esticou o braço por cima da marcha para tocá-la.
— São tão macias agora quanto eram naquela época.
Luce balançou a cabeça. Ela amou a história, e queria escutar
mais mil como aquela, mas essa não era a resposta que queria ouvir.
— Quero saber sobre a primeira vez que me conheceu — pediu.
— Da primeira vez de todas. Como foi?
Depois de uma longa pausa, ele finalmente disse:
— Está ficando tarde. Estão esperando por você na Shoreline
antes da meia-noite. — Ele pisou no acelerador, fazendo uma curva rápida
para a esquerda, entrando em Mendocino. No espelho retrovisor, Luce
observou o estacionamento de trailers ficar menor e mais encoberto, até
desaparecer completamente. Então, alguns segundos depois, Daniel
estacionou em frente a um restaurante 24 horas vazio, com paredes
amarelas e janelas do chão até o teto.
O quarteirão era repleto de prédios estranhos e singulares que
lembraram Luce de uma versão menos convencida da costa da Nova
Inglaterra, perto de sua antiga escola de New Hampshire, Dover. A rua era
pavimentada com paralelepípedos desiguais que brilhavam amarelados
sob a luz dos postes. No final, a estrada parecia cair direto para dentro do
oceano. Ela teve que ignorar seu medo instintivo do escuro. Daniel tinha
explicado sobre as sombras — que não eram nada a se temer, e sim meros
mensageiros. Isso deveria ter sido tranquilizador, exceto pelo fato, difícil de
ignorar, que isso também significava que existiam coisas ainda piores a
temer.
— Por que não me conta? — soltou ela contra sua vontade. Não
sabia por que achava tão importante perguntar. Se ia confiar em Daniel
quando ele dizia que teria que abandoná-la depois de esperar a vida toda
por esse reencontro, bem, talvez ela só estivesse querendo entender as
Lauren Kate
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origens daquela confiança. Para saber quando e como tudo havia
começado.
— Sabe o que significa meu sobrenome? — perguntou ele,
surpreendendo-a.
Luce mordeu o lábio, tentando se lembrar da pesquisa que havia
feito com Penn.
— Lembro-me da Srta. Sophia falando alguma coisa sobre
Guardiões. Mas não sei o que significa, ou se deveria acreditar nela. —
Seus dedos tocaram o pescoço, no local onde o punhal da Srta. Sophia
havia encostado.
— Ela estava certa. Os Grigori são um clã. Um clã batizado por
minha causa, na verdade. Porque eles observaram e aprenderam com o
que aconteceu quando... quando eu ainda era bem-vindo no Céu. E
quando você era... Bem, isso tudo aconteceu há muito tempo, Luce. É
difícil me lembrar dos detalhes.
— Onde? O que eu era? — pressionou ela. — Lembro-me
também da Srta. Sophia dizendo alguma coisa sobre os Grigori se
associando a mulheres mortais. Foi isso o que aconteceu? Você...?
Daniel olhou para ela. Algo havia mudado em seu rosto e, sob a
fraca luz da lua, Luce não conseguia decifrar o que significava. Era quase
como se ele estivesse aliviado por ela ter adivinhado, para não ter que
explicar ele mesmo.
— A primeira vez em que a vi — continuou Daniel — não foi muito
diferente de qualquer uma das outras vezes em que a vi desde então. O
mundo era mais jovem, mas você era a mesma. Foi...
— Amor à primeira vista. — Essa parte ela sabia.
Ele assentiu.
— Como sempre. A única diferença foi que, no começo, você era
inalcançável para mim. Eu estava sendo punido, e me apaixonara por você
no pior momento possível. As coisas andavam violentas no Céu. Por ser
quem... eu sou... Deveria ter ficado longe de você. Era uma distração. Meu
foco deveria estar em ganhar a guerra. É a mesma guerra que ainda está
acontecendo. — Ele suspirou. — E, se ainda não notou, continuo muito
distraído.
— Então você era um anjo de muito prestígio — murmurou Luce.
— Claro. — A expressão de Daniel era triste, parando de falar e
depois era, quando retomara o assunto, parecia ter dificuldade para achar
as palavras. — Foi uma queda de um dos postos mais altos.
É claro. Daniel teria que ser importante no Céu para ter causado
uma confusão tão grande. Para seu amor por uma garota mortal ser tão
errado.
TORMENTA
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— Você desistiu de tudo? Por mim?
Ele encostou a testa na dela.
— Não mudaria nada.
— Mas eu não era ninguém — disse Luce. Ela se sentia pesada,
como se estivesse afundando. E levando-o junto. — Teve que desistir de
tanta coisa! — Ela se sentia enjoada. — E agora está amaldiçoado para
sempre.
Desligando o carro, Daniel abriu-lhe um sorriso triste.
— Talvez não seja para sempre.
— O que quer dizer?
— Venha — disse ele, saindo do carro e dando a volta até sua
porta. — Vamos dar um passeio.
Eles foram até o fim da rua, que não era um beco sem saída, afinal,
e sim um caminho até uma escadaria de pedras bastante íngreme,
levando até a água. O ar era fresco e úmido pelo proximidade do mar. À
esquerda dos degraus, uma trilha levava para outro lugar. Daniel pegou a
mão dela e se moveu até a beirada do penhasco.
— Aonde estamos indo? — perguntou Luce.
Daniel sorriu para ela, endireitando os ombros, e abriu as asas.
Lentamente, elas se estenderam para cima e para longe de seus
ombros, desdobrando-se com uma quase inaudível série de estalos e
ruídos suaves. Totalmente flexionadas, elas emitiam um som leve e
agradável, como o de um cobertor sendo estendido sobre a cama.
Pela primeira vez, Luce notou as costas da camisa de Daniel.
Havia dois pequenos e praticamente invisíveis rasgos, que agora se
abriam deixando as asas passarem. Será que todas as roupas de Daniel
tinham essas alterações angelicais? Ou ele tinha itens específicos e
especiais que usava quando planejava voar?
Fosse qual fosse a resposta, as asas de Daniel sempre deixavam
Luce sem palavras. Elas eram enormes, erguendo-se até três vezes a
altura de Daniel, e se curvavam para o alto e para os lados como grandes
velas brancas. Sua largura ampla absorvia a luz das estrelas produzindo
um reflexo ainda mais intenso e conferindo às asas um brilho iridescente.
Perto de seu corpo elas escureciam, adquirindo uma forte cor terrosa onde
encostavam nos músculos de seus ombros. Mas, ao longo das bordas
cônicas, elas ficavam mais finas e cintilavam, parecendo quase
translúcidas nas pontas.
Luce as encarou, arrebatada, tentando memorizar o contorno de
cada pena gloriosa, tentando guardar tudo aquilo dentro dela para quando
ele tivesse ido embora. Daniel brilhava tanto que o sol podia ter roubado
dele sua luz. O sorriso em seus olhos violeta revelava a ela como era boa a
Lauren Kate
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sensação de deixar suas asas se abrirem. Tão bom quanto era para Luce
estar aninhada dentro delas.
— Voe comigo — sussurrou ele.
— O quê?
— Não vou vê-la por algum tempo. Tenho que dar a você algo para
se lembrar de mim.
Luce o beijou antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa.
Entrelaçando os dedos em volta do pescoço de Daniel, segurando-o com a
maior força possível, esperou dar a ele algo para se lembrar dela também.
Com as costas pressionadas contra o peito dele, e a cabeça apoiada em
seu ombro, Daniel tracejou uma linha de beijos pelo seu pescoço. Ela
prendeu a respiração, esperando. Então ele flexionou as pernas e
graciosamente pulou da beirada do penhasco.
Estavam voando.
Para longe da saliência rochosa da costa, sobre as ondas
prateadas lá embaixo, atravessando o céu como se em direção à lua. O
abraço de Daniel a protegia de cada rajada de vento, de cada jato de brisa
fria do oceano. A noite estava totalmente quieta.
Como se eles fossem as duas últimas pessoas no mundo.
— Isso é o Céu, não é? — perguntou ela.
Daniel riu:
— Quem me dera. Talvez um dia... em breve.
Quando já haviam voado longe o suficiente, e não viam mais terra
em nenhum dos lados, Daniel virou levemente para o norte e passaram em
arco pela cidade de Mendocino, que brilhava calorosamente no horizonte.
Estavam bem acima do edifício mais alto da cidade e se moviam
incrivelmente rápido.
Mas Luce nunca se sentira mais segura ou mais apaixonada em
toda sua vida.
E então, cedo demais, estavam descendo, gradualmente se
aproximando da beirada de outro penhasco. Os sons do oceano voltaram
a ficar mais altos. Uma única estrada escura saía da estrada principal.
Quando os pés deles tocaram levemente num pedaço de grama espessa e
gelada, Luce suspirou.
— Onde estamos? — perguntou, apesar de, é claro, já saber.
O Colégio Shoreline. Ela podia ver um prédio grande ao longe,
mas dali ele parecia completamente escuro, uma silhueta indefinida no
horizonte. Daniel a segurou com firmeza junto a ele, como se ainda
estivessem voando. Ela esticou a cabeça para cima para examinar sua
expressão. Os olhos dele estavam marejados.
— Quem me amaldiçoou ainda está observando, Luce. Fazem
TORMENTA
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isso há milênios, e não querem que fiquemos juntos. Serão capazes de
fazer qualquer coisa para nos impedir. Por isso não é seguro que eu fique
aqui.
Ela assentiu, com os olhos ardendo.
— Mas por que eu estou aqui?
— Porque vou fazer tudo em meu poder para manter você a salvo,
e esse é o melhor lugar para fazer isso agora. Eu amo você, Luce. Mais do
que tudo. Voltarei assim que puder.
Ela queria protestar, mas se controlou. Ele havia aberto mão de
tudo por ela. Quando Daniel a soltou de seu abraço, abriu a palma da mão
e uma pequena forma vermelha dentro dela começou a crescer. Sua mala
de viagem. Ele a tirara do porta-malas do carro sem que ela percebesse, e
carregou-a até ali dentro de sua mão. Em apenas alguns segundos, ela
havia enchido e crescido inteiramente, de volta ao tamanho original. Se
não estivesse com o coração tão apertado por saber o que significava
Daniel devolvendo a mala para ela, Luce teria amado o truque.
Uma única luz se acendeu dentro do prédio e uma silhueta
apareceu na porta de entrada.
— Não vai ser por muito tempo. Assim que for mais seguro, venho
buscar você.
Sua mão morna apertou o pulso de Luce e, antes de se dar conta,
ela estava em seus braços, atraída para os lábios dele.
Luce deixou todo o resto desmoronar, permitindo que o coração
tomasse conta. Talvez não se lembrasse de suas vidas anteriores, mas,
quando Daniel a beijava, se sentia mais próxima do passado. E do futuro.
A figura na porta estava andando na direção dela, uma mulher
num vestido branco curto.
O beijo que Luce dividira com Daniel, doce demais para ser tão
breve, a deixara sem fôlego como acontecia sempre que se beijavam.
— Não vá — sussurrou ela, de olhos fechados. Tudo estava
acontecendo rápido demais. Ela não podia desistir de Daniel. Ainda não.
Suspeitava que nunca poderia.
Luce sentiu a lufada de ar que significava que ele já havia
decolado. Seu coração foi atrás de Daniel quando ela abriu os olhos e viu o
último movimento das asas desaparecendo dentro de uma nuvem e
penetrando na noite escura.
Lauren Kate
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pálida, para as mãos enrugadas e galochas de borracha barata, para o
risco vermelho-escuro no peito dele. Aquilo fez Daniel sentir frio mais uma
vez. Se essa morte não fosse necessária para garantir a segurança de
Luce, para deixá-la a salvo, Daniel nunca mais levantaria uma arma.
Nunca mais lutaria numa batalha.
E alguma coisa sobre a morte desse homem não parecia se encaixar muito
bem. Na verdade, Daniel tinha uma vaga e preocupante sensação de que
alguma coisa estava profundamente errada.
— Acabar com eles é a melhor parte. — Cam envolveu o peito do
homem com a corda, apertando bem debaixo dos braços.
— O trabalho sujo é despachá-los mar adentro.
Daniel ainda estava segurando o galho de árvore ensanguentado.
Cam tinha caçoado da escolha, mas Daniel nunca se importava com a
arma que usava. Ele podia matar com qualquer coisa.
— Rápido — grunhiu, enojado pelo óbvio prazer que Cam sentia
em derramar sangue humano. — Está perdendo tempo. A maré está
baixando.
— E, a não ser que façamos isso do meu jeito, a maré alta de
amanhã vai trazer o matador aqui de volta para a praia. Você é impulsivo
demais, Daniel, sempre foi. Alguma vez já planejou algo um pouco mais à
frente?
Daniel cruzou os braços e olhou para trás em direção às cristas
brancas das ondas. Uma balsa turística do cais de São Francisco estava
deslizando na direção deles. Tempos atrás, a visão daquele barco poderia
ter trazido de volta uma enxurrada de memórias. Mil viagens felizes que
havia feito com Luce através de mares ao longo de encarnações
diferentes. Mas, agora — agora que ela podia morrer e nunca mais voltar,
nessa vida onde tudo havia mudado e não haveria mais encarnações —,
Daniel estava sempre muito ciente de como a memória dela estava em
branco.
Essa era a última chance, para ambos. Para todo mundo, na
verdade. Portanto, era a memória de Luce, e não a de Daniel, que
importava, e se ela desejasse sobreviver, inúmeras verdades terríveis
precisariam ser reveladas. Só de pensar em tudo o que ela precisava
descobrir fazia seu corpo todo ficar tenso.
Se Cam achava que Daniel não estava planejando à frente, estava
muito enganado.
— Você sabe que só existe um motivo para eu ainda estar aqui —
disse Daniel. — Precisamos conversar sobre ela.
Cam riu.
— Ia fazer isso. — Com um grunhido, ele jogou o cadáver

2
 tormenta
Daniel encarava a baía. Seus olhos estavam tão cinzentos quanto a
espessa neblina que envolvia o litoral de Sausalito e as águas agitadas que
revolviam os seixos sob seus pés. Não havia nenhum vestígio de violeta
em seus olhos agora; ele podia sentir.
Ela estava longe demais.
Apertou os braços contra o corpo para se proteger do vendaval
que batia nas águas, respingando nele. Mas, mesmo quando fechou mais
ainda seu grosso casaco de lã, sabia que não adiantaria. Caçar sempre o
deixava gelado.
Apenas uma coisa poderia esquentá-lo hoje, e ela estava fora de
seu alcance. Sentia saudades de como o topo da cabeça de Luce era o
lugar perfeito para os lábios dele descansarem. Imaginava-se
preenchendo o vazio entre seus braços com o corpo dela,se inclinando
para beijar seu pescoço. Mas era melhor que Luce não estivesse ali agora.
O que veria a deixaria horrorizada.
Atrás dele, o ruído dos leões-marinhos indo de um lado para o
outro ao longo da costa sul da Ilha Angel soava como seus sentimentos:
uma solidão dolorosa, sem ninguém por perto para ouvi-lo.
Ninguém além de Cam.
Ele estava agachado na frente de Daniel, amarrando uma âncora
enferrujada em volta da forma molhada e desajeitada aos pés dos dois.
Mesmo ocupado com algo tão sinistro, Cam era belo. Seus olhos verdes
cintilavam e o cabelo escuro fora cortado. Era a trégua; ela sempre trazia
um brilho mais intenso aos anjos, uma luminosidade ainda mais forte no
rosto e no cabelo e até mesmo uma forma mais bem-feita ao já impecável e
musculoso corpo. Dias de trégua faziam pelos anjos o que férias na praia
faziam pelos humanos.
Então, mesmo que Daniel chorasse por dentro cada vez que era
forçado a acabar com uma vida humana, para qualquer um ele pareceria
um cara voltando das férias no Havaí: relaxado, descansado, bronzeado.
Apertando um de seus elaborados nós, Cam disse:
— É tão típico de você, Daniel. Sumir e me deixar fazer o trabalho
sujo sozinho.
— Do que está falando? Fui eu quem o matou. — Daniel baixou os
olhos para o homem morto, o cabelo grisalho e crespo grudado na testa 

1

Sinopse: Luce está mais uma vez separada de Daniel, mas somente pelo tempo necessário para caçar os Párias — anjos caídos, como ele, mas que desejam Luce morta mais do que tudo.
Daniel leva sua amada mortal até a Shoreline, uma escola na rochosa costa californiana que esconde alunos com talentos únicos: os nefilim, filhos ou descendentes de relacionamentos entre anjos e mortais.
Na Shoreline, Luce aprende mais sobre as sombras, e como pode utilizá-las como janelas para suas vidas passadas. Porém, quanto mais Luce descobre todas aquelas Luces anteriores a ela, mais ela suspeita que Daniel está escondendo um segredo — um segredo mortal.
E se a versão de Daniel para o passado dos dois não é exatamente verdadeira? E se Luce devesse estar com outra pessoa — em uma vida não amaldiçoada por esse amor proibido? Será que ser amada por um anjo vale todo o sofrimento em séculos de existência?
Sinopse: Algo parece estranhamente familiar em relação a Daniel Grigori. Solitário e enigmático, ele chama a atenção de Luce logo no seu primeiro dia de aula no internato. A mudança de escola foi difícil para a jovem, mas encontrar Daniel parece aliviar o peso das sombras que atormentam seu passado: um incêndio misterioso levou Luce até ali. Irremediavelmente atraída por Daniel, ela quer descobrir qual é o segredo que ele precisa tanto esconder... mesmo que isso a aproxime da morte.
Um anjo caído, nada mais é,
que um arcanjo que se apaixonou
e deixou todo esplendor do céu
quando o amor puro lhe chamou.


Ao encontro da mulher amada
Seus olhos doces e infinitos
Miraram a musa tão desejada
E seus lábios moveram aflitos:


-Que feitiço lançaste sobre mim?
Para me trazer acorrentado
A todo lugar, sem questionar,
Ao teu amor aprisionado?


“Caí do céu pelo teu amor
Os teus olhos me fascinaram
Eu desci à terra para ser teu
Minhas asas hoje se quebraram”.


“Eu não te peço que me ames
Viver sem ti só me traria a dor
Sou anjo caído, mas apaixonado,
Pecado, é viver sem teu amor”.


Esse anjo que aqui voava
Caiu! Mas não se machucou
porque alguém ali embaixo
em seus braços o amparou.