quinta-feira, 5 de abril de 2012

pálida, para as mãos enrugadas e galochas de borracha barata, para o
risco vermelho-escuro no peito dele. Aquilo fez Daniel sentir frio mais uma
vez. Se essa morte não fosse necessária para garantir a segurança de
Luce, para deixá-la a salvo, Daniel nunca mais levantaria uma arma.
Nunca mais lutaria numa batalha.
E alguma coisa sobre a morte desse homem não parecia se encaixar muito
bem. Na verdade, Daniel tinha uma vaga e preocupante sensação de que
alguma coisa estava profundamente errada.
— Acabar com eles é a melhor parte. — Cam envolveu o peito do
homem com a corda, apertando bem debaixo dos braços.
— O trabalho sujo é despachá-los mar adentro.
Daniel ainda estava segurando o galho de árvore ensanguentado.
Cam tinha caçoado da escolha, mas Daniel nunca se importava com a
arma que usava. Ele podia matar com qualquer coisa.
— Rápido — grunhiu, enojado pelo óbvio prazer que Cam sentia
em derramar sangue humano. — Está perdendo tempo. A maré está
baixando.
— E, a não ser que façamos isso do meu jeito, a maré alta de
amanhã vai trazer o matador aqui de volta para a praia. Você é impulsivo
demais, Daniel, sempre foi. Alguma vez já planejou algo um pouco mais à
frente?
Daniel cruzou os braços e olhou para trás em direção às cristas
brancas das ondas. Uma balsa turística do cais de São Francisco estava
deslizando na direção deles. Tempos atrás, a visão daquele barco poderia
ter trazido de volta uma enxurrada de memórias. Mil viagens felizes que
havia feito com Luce através de mares ao longo de encarnações
diferentes. Mas, agora — agora que ela podia morrer e nunca mais voltar,
nessa vida onde tudo havia mudado e não haveria mais encarnações —,
Daniel estava sempre muito ciente de como a memória dela estava em
branco.
Essa era a última chance, para ambos. Para todo mundo, na
verdade. Portanto, era a memória de Luce, e não a de Daniel, que
importava, e se ela desejasse sobreviver, inúmeras verdades terríveis
precisariam ser reveladas. Só de pensar em tudo o que ela precisava
descobrir fazia seu corpo todo ficar tenso.
Se Cam achava que Daniel não estava planejando à frente, estava
muito enganado.
— Você sabe que só existe um motivo para eu ainda estar aqui —
disse Daniel. — Precisamos conversar sobre ela.
Cam riu.
— Ia fazer isso. — Com um grunhido, ele jogou o cadáver

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